segunda-feira, 13 de maio de 2013

O nó e o dó - Humberto Gessinger


"Um caso de admiração entre músicos na Viena da virada do século passado: Schönberg dizia que, observando Mahler fazer o nó da gravata, havia aprendido mais do que em 3 anos de conservatório. 

O leitor mais pragmático deve estar pensando "que baba-ovismo imbecil". Entendo o leitor. Mas devo confessar que entendo Schönberg muito mais. Eu mesmo já tive insights vendo artistas magistrais em atos prosaicos: guardando o instrumento no estojo, contando compassos com o pé no chão do palco... Já aprendi muito vendo como um produtor apagava anotações com a borracha e, depois, assoprava a folha. Não vale só para músicos talentosos: entendi muita coisa vendo Dunga caminhar para a bola,  bater o pênalti e vibrar com o punho cerrado na final que nos deu a copa de 94 - depois de ter sido estigmatizado na de 90.


Ok, talvez estes momentos de revelação não correspondam a 3 anos de conservatório. Mas, afinal, não estamos falando da matemática dos calendários, né?



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Se quiser (se puder) a gente aprende com os menores gestos das pessoas agraciadas com algum dom  (e todo mundo tem algum). Quando alguém está de corpo e alma, até os ossos, mergulhado em sua magia, o fundamental e o insignificante são inseparáveis, o geral e o particular se fundem.


O que faremos com o que aprendemos em cada esquina da vida (e com o que aprendemos formalmente, nos conservatórios) é problema nosso. E talvez seja a nossa solução.



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No mesmo livro em que li a frase de Schönberg, há uma citação do poeta francês Paul Valery: "o mais profundo é a pele", que me lembrou a pergunta do poeta estadunidense Walt Whitman: "o que pode ser maior ou menor do que um primeiro toque?". 


A vida fica muito maior quando estamos atentos e abertos ao aprendizado nos pequenos detalhes, quando nos livramos da prepotência das verdades absolutas. Às vezes a escolha é muito simples (quase óbvia no início do outono porto-alegrense): a flexibilidade das folhas ao vento ou a rigidez cadavérica das grandes certezas.



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Para algumas religiões, nossa passagem por aqui (primavera-verão-outono-inverno) tem como finalidade o aprendizado. Se não me engano, uma delas diz que a passagem não é uma só, que voltaremos até aprender. É, há que ter paciência! Acho que aprendi: ando sem paciência pra gente sem paciência. Ops..."


(via BloGessinger)


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