Não há mais sobre o que escrever
O mundo tornou-se doido demais para que o lirismo desse conta de suas loucuras
Se nem mesmo o instrumento dos loucos, isolados, distanciados, gauches
É capaz de explicar o que é que há com o mundo
Quem sou eu para tentar?
Fale-me de você. Vamos tomar um café e conversar sobre seu dia
Ao que parece só me resta cantar as coisas simples da vida
Coisas óbvias e com sentido, suficientemente lógicas para não acabar comigo
Pareço um pouco consternado, José?
É porque a festa acabou mesmo
Foi-se o tempo da orgia intelectual
Hoje todos os nossos poetas estão loucos
Ou então (foram) mortos
Soterrados pela angústia que abateu-se sobre a alma de cada um deles
Por não conseguirem mais fingir que entendiam o mundo
Acabou. Todas as penas, canetas ou teclados devem ser guardados
Vamos tratar de arrumar preciosos cargos públicos que não nos enlouquecerão
Chegando em nossas casas assistiremos a boa e velha novela piegas
Reclamaremos que a comida está sem sal
E sem querer faremos um poema sobre a falta de sal do mundo
Por que, por mais que tente, um poeta é sempre um poeta
Não podemos simplesmente pendurarmos nossos casacos e dormirmos tranqüilamente
Seria bem mais fácil se pudesse ser assim, mas...
O mundo caducou e nada mais resta além de lirilizá-lo
Mesmo que fiquemos loucos (não sempre o fomos?)
Novamente caio em contradição em virtude da natureza poética
Isso prova que não é o poeta que faz a poesia
Mas a poesia é que leva o poeta
E poeta é aquele que se deixa levar por ela sem ter medo
De caducar junto com o mundo
Não importa. Um último gesto involuntário de um poeta sendo sufocado
Vitimado por contas, faróis, recibos e tratamento capilar com resultados em duas semanas
Hoje não é apenas um dia triste para a escrivinhatura universal
Hoje é apenas o dia onde se percebeu que no final da linha tinha um ponto final
Tinha um ponto final no final da linha
No final da linha tinha um ponto final
Quem sabe algum desavisado comece, daqui há uns tempos, a poetizar por aí
Achando que o mundo é torto e que ele é mais torto ainda
Certamente se ele não pirar (ou virar funcionário do Banco do Brasil)
Vou estar na primeira fila aplaudindo-o de pé
Pensando onde diabos eu deixei minha pena, caneta ou teclado.
(Tenho certeza que Drummond ficaria orgulhoso desse escrito que o Luiz fez quando era mais jovem... Eu sou simplesmente apaixonada pela escrita dele! Cada vez que leio algo que ele escreveu eu me sinto orgulhosa por saber que ele fez parte da minha vida, mesmo a distância, e ver o grande cara que ele se tornou.)
O No coletivo era o blog do Luiz, pra quem curtiu seu estilo de escrita, lá tem mais textos, só é uma pena que ele tenha parado de atualizar há mais de dois anos!
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