quinta-feira, 30 de maio de 2013

Meu filho, você não merece nada - Eliane Brum

"Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.
Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.
É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.
Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.
Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.
Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.
Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.
Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.
Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.
O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.
Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.
Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba."

terça-feira, 28 de maio de 2013

Desculpas sinceras...rs

Queridos usuários, eu, bibliotecária, venho humildemente me desculpar pelas minhas limitações que me impedem de buscar por livros que vocês não saibam o título e/ou nome do autor. Estarei buscando meios para que possa aperfeiçoar meus métodos e em breve consiga superar essa limitação e recuperar os livros que vocês tantas vezes me pedem pela cor, tamanho e afins. Agradeço a compreensão de todos!rs

Diálogos sem nexo na Biblioteca - Parte VIII

Essa é típica, acredito que mais de uma vez por mês (senão por semana!) algum bibliotecário passe por essa:

(Usuária) - Juliana, você emprestou algum livro de mecânica?
(Eu)         - Sim, eu empresto livros o tempo todo.
(Usuária) - Você emprestou um fininho assim (e fez com as mãos o gesto indicando a largura do livro!)
(Eu )       - Sabe quantos livros com essa descrição que você me deu eu tenho aqui? Talvez mais de mil! Você não sabe o título?

A gente nunca vai se conformar com isso, né?! Meus amados usuários, anotar o título do livro e o autor do mesmo, é muito importante se você pretende consultá-lo novamente! Um beijo! =*


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Desabafo...

Isso deveria ser um e-mail, 
Talvez uma carta de amor.
Não sei, 
Talvez não vire nada além 
De um desabafo solitário.
Talvez um desabafo 
Que vire uma publicação.
O que não o tornará 
Menos solitário também.
Isso é só saudade.
Saudade de tudo o que não fomos,
De tudo que não vivemos,
E de tudo que não é mais.
Se é que posso dizer 
Que um dia foi. 
Mas não deixa de ser 
Uma saudade legítima.
A verdade é que a falta que você me faz
Consegue ser infinitamente maior 
Ao orgulho que simulo
Pra tentar não demonstrar pra você 
O quanto me importo
E o que sinto.
Fico dias com a ideia fixa 
De que você ainda faz parte da minha vida, 
Outros dias 
Pratico o desapego.
Mas sempre vem a noite, 
E traz os sonhos consigo. 
Por que diabos esses sonhos 
Parecem tão reais? 
Não são ruins, 
São a externalização 
De tudo que eu desejo 
Bem aqui no fundo
Pra nós.
Coisas que desejo 
E que nunca fiz esforço algum 
Para ter.
Sempre tive e fui 
Apenas palavras, 
E apesar delas não serem mais suficientes, 
Elas ainda fazem falta, 
Muita falta. 
Antes parecia que eu tinha 10% 
De alguma coisa mágica
E hoje eu tenho certeza 
Que tenho 100% de nada,
Apenas dessa ausência 
E desse incômodo 
Desde que você se foi.
Não há tristeza, 
Apenas hoje me sinto impotente 
Diante de uma situação 
Que por anos 
Tive o poder de resolução 
Em minhas mãos.
E se hoje é o meu dia 
Da ideia fixa, 
Aqui começa o meu esforço 
Pelo próximo dia 
Do desapego.

Juliana Moretti


quinta-feira, 23 de maio de 2013

So simple...

E daí vem aquele momento que você descobre não só que consegue viver sem alguém, mas que sempre viveu... Tão simples e tão libertador!





Sobre alguns relacionamentos - Marla de Queiroz

"Relacionamentos doentios, obsessões e afins também são tão nocivos quanto as drogas. As pessoas que vivem em função disso procuram uma forma de se anestesiar o tempo todo, usam o Outro como foco e fogem de si mesmas. Cuidar da própria vida dá trabalho porque exige um aprimoramento que é um exercício diário. Mas é delicioso ser sua melhor companhia. Na teoria parece muito fácil, mas não é. Eu sei. Só que nem ao menos vejo as pessoas tentando. Me perguntam como conseguir se desvencilhar de alguém que subtrai, suga, machuca. Digo que ADEUS foi feito para isso. Respondem: “mas é tão difícil!”. Ora, se fosse fácil ninguém sofreria. O imediatismo faz o ser humano se expor e se submeter a circunstâncias de alívio imediato catastróficas. E que nada mais é do que postergar a cura de uma dor que precisará ser cuidada adiante. É um insulto tentar tornar o Outro, aquele que te rejeita, refém da sua loucura com as inúmeras tentativas de ver nas entrelinhas de um gesto educado, esperança para algo maior.
É uma insanidade viciar-se na adrenalina da manipulação do “não te quero, mas não te deixo” e ficar idealizando histórias sólidas com pessoas afetivamente indisponíveis, sejam comprometidas ou não. Neste caso, só há fragilidade e um tempo perdido que jamais será recuperado. E você só dá sua carência, não o seu amor."



Diálogos sem nexo na Biblioteca - Parte VII

Rapidinhas

Duas pessoas chegadas conversando:
- Você sabe onde eu moro?
- Acho que sei. É em uma esquina, né?
- Isso mesmo! Moro na esquina, na segunda casa.
(Não sabia que o quarteirão inteiro fazia parte da esquina!)


๏̯͡๏ 


Essa eu não sei nem o começo da conversa... Mas a conversa em si nem faria muita diferença, só a frase crucial:
- Tanto faz a água subir pra cima ou pra baixo...
(Opa! Tanto faz descer pra cima também!)

๏̯͡๏ 


Recentemente minha amiga Sandra, que trabalha comigo, virou vovó de um meninão! Seja bem-vindo, Yann!
Hoje ela veio me contar uma história... Seu marido, André, nosso professor por sinal, foi chamado de Lobo Mau por um aluno e ele sem entender, perguntou:

- Mas por que?
- Oras, porque agora você está comendo a vovozinha!
(SACANAGEM, JOVEM!ahuahuahauhauhauhauahuahua)


terça-feira, 21 de maio de 2013

Monólogo na Biblioteca - Parte I

Moça emprestando livro sobre redação e gramática...

- Ah deixa eu estudar um pouquinho, viu? Vou prestar o ENEM de novo...

Nem deu tempo de eu falar alguma coisa:
- A coisa tá tão feia que o rapaz que escreveu sobre o miojo fez mais pontos que eu!

Tadinha, é muita sacanagem! Ficamos as duas dando risada dessa coisa que virou o ENEM... Acho que a gente devia é chorar...




quarta-feira, 15 de maio de 2013

Meus erros - Clarissa Corrêa


Nem sempre eu sei pedir desculpas. É que tenho um lado orgulhoso que me enreda e me deixa meio atrapalhada. Nem sempre sei dizer as coisas certas. É que às vezes fico paralisada e com medo de colocar tudo a perder. Logo eu, que gosto tanto de ganhar. Nem sempre sei ser adulta. É que, como eu já disse, não sei perder. Quero tudo para agora, pois daqui a cinco minutos não sei para onde a vida vai nos levar. E isso me assusta.

Sei que nem tudo pode ser do meu jeito, mas insisto em não aceitar as coisas. É claro que existem muitas formas certas, mas sempre acho que a minha é melhor e isso me desgasta. Deveria aceitar as pessoas como elas são, mas sempre espero demais, tenho expectativas, tenho aquela esperança boba de que algo mude com meu toque mágico. Mas não tiro coelho da cartola, pois nem cartola tenho. 

Preciso parar de querer que tudo seja como eu quero. Frase estranha, eu sei. Mas vivo querendo que tudo seja como eu imaginei e as situações muitas vezes me dão rasteira, me estatelo no chão e fico sem saber o que fazer com meus pedaços feridos.

Esperar não é pra mim. Se eu preciso de uma coisa é para agora, não adianta ser depois. E se você não entende isso, tudo bem, deixa que eu faço e depois jogo na sua cara que fiz. É que tenho essa mania feia de jogar na cara do outro. 

Ninguém é massinha de modelar. Não posso te amassar, te moldar, te arrumar da forma que quero. Você é como é, eu sou como sou e podemos nos aceitar assim ou não. A escolha é só nossa. O problema é que sempre achamos que podemos tudo, mas não podemos nada. As coisas são dessa forma, você aceita se quer. Uma pessoa só muda se quer, se tem vontade, se faz esforço. Eu não tenho poderes para mudar ninguém, mal consigo ajustar o que anda desajustado em mim. O dia que todo mundo entender isso vai ser mais fácil viver a dois, a três, a quatro, a mil.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Pedra rolante - Caio Fernando Abreu

“Pedra que muito rola não cria musgo” – dizia minha avó quando falava de um sobrinho, Francisco. Ninguém nunca sabia direito onde ele andava: podia ser Porto Alegre, Rio, São Paulo, Paris ou Alexandria. Não é jeito de dizer, não. Ele passou mesmo vários anos no Egito. O Francisco era um exemplo perfeito do que um bom rapaz não deve nunca fazer: andar por aí assim, mudando de cidade, de trabalho, de vida, com tanta facilidade como quem muda de camisa. Pedra que se preza, para minha avó, devia ficar parada e quietinha no seu lugar, criando embaixo aquela camada grossa de musgo verdinho.

Bom, uns anos depois, já na estrada, conheci o Francisco e achei ele ótimo. Tinha visto uma porção de lugares, conhecido um monte de gente, vivido e sentido coisas que a maioria das pessoas só imagina e não tem coragem de viver. Fiquei encantado: ele era uma pessoa larga. Largueza, para mim, é qualidade muito importante nas pessoas. Foi então que entendi melhor porque sempre tinha achado musgo uma coisa muito chata.

As pessoas vivem me perguntando: “Mas, afinal, onde é mesmo que você está morando?” Nem sempre sei responder. Pode ser aqui, ali, ou um pouco aqui, outro ali. Outro dia alguém se queixou que só de endereços meus tinha umas duas páginas ocupadas (e riscadas) na cadernetinha. Até pouco tempo atrás, confesso, eu mesmo ficava angustiado com essa inquietação toda. Agora estou mais acostumado. Tem coisas da gente que não são defeito nem erro: são só jeito da gente ser. O negócio é acostumar com isso e não sofrer. Aliás, o melhor jeito, em relação a qualquer coisa, é sofrer o mínimo possível. Aquilo que os americanos chamam de relax and enjoy – mais ou menos “relaxe e curta”.

Não sei dizer mais quantas vezes mudei de casa e de cidade. Fui, por exemplo, de Santiago, no interior do Rio Grande do Sul, para Porto Alegre, de lá para São Paulo, depois Campinas, Rio de Janeiro, um tempinho em Florianópolis, na Bahia, em Paris, em Londres, Estocolmo, mais um pouquinho no Rio, e por aí vai. Só em São Paulo já morei quatro vezes, de ir embora jurando nunca mais voltar, e voltando sempre. Só em Sampa, já passei pelo Jardim América, pela Bela Vista, Vila Madalena, Jardim Paulistano, Pinheiros, Sumaré, Centro da cidade – agora estou num lugar entre o Ibirapuera e Vila Nova Conceição, que ainda não consegui descobrir o nome. Sei que tem uma feira bem na minha rua, às terças-feiras.. Estou achando um grande barato ter, pela primeira vez na vida, uma feira aqui na porta de casa. Mas não sei até quando vou achar isso.

Minto. Sei, sim. Não é de repente, é mais aos pouquinhos que acontece. Difícil explicar, mas vai dando uma coisa de você não ver mais direito nem as coisas nem as pessoas que estão à sua volta. Você vai acostumando com elas, assim como acostuma com uma cadeira, uma mesa, um fogão. Quando tudo começa a ficar igual todos os dias e você, sem perceber, começa a se movimentar como quem liga o automático e, feito robô, apenas faz coisas, sem sentir o que está fazendo – bem, para mim é porque está na hora de dar o fora. Aí a gente muda. Se não dá para mudar de cidade, muda de casa, muda de rua, de bairro (cá entre nós: massa mesmo seria poder mudar de planeta). Não há nada mais estimulante do que ver ruas e pessoas pela primeira vez. Você tem que fazer um superexercício para conseguir descobrir os jeitos particulares delas se comunicarem – sim, porque tudo isso tem um jeitinho particular. Você é novo. A maioria das pessoas que conheço vive muito desatenta de estar vivendo: elas parecem tão acostumadas com as coisas que estão em volta que é como se estivessem dormindo.

Não digo que todo mundo deva fazer a mesma coisa, e que isso é o certo. Na minha cabeça, certo é tudo aquilo que dá prazer da gente fazer, desde – claro – que não prejudique ninguém. Depois, também acho que para acordar dessa espécie de sono limoso tem muito jeitos. Pode ser ler um livro ou ver um filme provocante, de vez em quando. Num fim de semana, ir a um bar ou a um bairro onde a gente nunca foi antes. Ou bater um bom papo, daqueles verdadeiros, com uma pessoa nova. O que não pode é começar a achar tudo igual, porque aí a criatura vai engordando por dentro e criando aquele tipo de barriga que eu chamo de “barriga mental”. Umas gordurinhas no cérebro que deixam o pensamento lerdo e tiram o prazer de qualquer coisa.

Claro que viver assim, pulando de galho em galho, também tem suas desvantagens. O que se perde de correspondência, por exemplo, é um absurdo. E tem gente maravilhosa que, de repente, vai ficando longe, difícil de ver – e aí dança. Mas também acho que aquilo que é bom, e de verdade, e forte, e importante – coisa ou pessoa – na sua vida, isso não se perde. E aí lembro de Guimarães Rosa, quando dizia que “o que tem de ser tem muita força”. A gente não tem é que se assustar com as distâncias e os afastamentos que pintam.  Mas, vantagens? Ah, isso também tem. A melhor delas é conhecer gente. Não tem coisa melhor (nem pior) do que gente. E, na minha opinião, não é plantado no mesmo lugar, caminhando sempre pelas mesmas ruas, repetindo ano após ano os mesmos programas, que você vai conhecer pessoas novas.

Se fico por aqui? Vou ficando. A feira na porta de casa me encanta, o dono do bar da esquina já começou a me cumprimentar. Ontem mesmo comecei um trabalho novo, e a casa recente está pegando o jeito que gosto. Mas quando vejo no mapa uma ilha chamada Java, com o porto de Surabaya, nas bandas da Ásia – que dá uma vontade de ir pra lá, ah, isso dá. Questão de paciência. Pelo menos até o dia que eu acordar de manhã e perceber aquela camadinha de verde musguento avançando. Porque, no que depender de mim, e para desgosto de minha avó, enquanto tiver saúde vou rolando até encontrar qualquer coisa (ou pessoa) tão fantástica que me dê vontade de ficar ali para sempre. Cá entre nós, se for só a morte, também não me importo nem um pouco.

(via Caio F Caio)

Diálogos sem nexo na Biblioteca - Parte VI

E as protagonistas da história de hoje somos eu e a Sandra Albero!

A San estava procurando o livro o Menino do Pijama Listrado e eu fui até a estante pra mostrar aonde ele deveria estar e não encontramos:


(Sandra) - Acho que alguém roubou...

(Juliana) - Infelizmente eu também acho, era pra ele estar aqui nessa prateleira.
(Sandra) - Eu olhei essa estante toda...
(Juliana) - Era pra ele estar depois do A Menina que Roubava Livros...
Eis que tenho um lampejo de compreensão:
(Juliana) - Eu sabia que ele não podia ficar perto desse livro, a menina roubou o livro!!!!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O nó e o dó - Humberto Gessinger


"Um caso de admiração entre músicos na Viena da virada do século passado: Schönberg dizia que, observando Mahler fazer o nó da gravata, havia aprendido mais do que em 3 anos de conservatório. 

O leitor mais pragmático deve estar pensando "que baba-ovismo imbecil". Entendo o leitor. Mas devo confessar que entendo Schönberg muito mais. Eu mesmo já tive insights vendo artistas magistrais em atos prosaicos: guardando o instrumento no estojo, contando compassos com o pé no chão do palco... Já aprendi muito vendo como um produtor apagava anotações com a borracha e, depois, assoprava a folha. Não vale só para músicos talentosos: entendi muita coisa vendo Dunga caminhar para a bola,  bater o pênalti e vibrar com o punho cerrado na final que nos deu a copa de 94 - depois de ter sido estigmatizado na de 90.


Ok, talvez estes momentos de revelação não correspondam a 3 anos de conservatório. Mas, afinal, não estamos falando da matemática dos calendários, né?



(*)

Se quiser (se puder) a gente aprende com os menores gestos das pessoas agraciadas com algum dom  (e todo mundo tem algum). Quando alguém está de corpo e alma, até os ossos, mergulhado em sua magia, o fundamental e o insignificante são inseparáveis, o geral e o particular se fundem.


O que faremos com o que aprendemos em cada esquina da vida (e com o que aprendemos formalmente, nos conservatórios) é problema nosso. E talvez seja a nossa solução.



(*)

No mesmo livro em que li a frase de Schönberg, há uma citação do poeta francês Paul Valery: "o mais profundo é a pele", que me lembrou a pergunta do poeta estadunidense Walt Whitman: "o que pode ser maior ou menor do que um primeiro toque?". 


A vida fica muito maior quando estamos atentos e abertos ao aprendizado nos pequenos detalhes, quando nos livramos da prepotência das verdades absolutas. Às vezes a escolha é muito simples (quase óbvia no início do outono porto-alegrense): a flexibilidade das folhas ao vento ou a rigidez cadavérica das grandes certezas.



(*)

Para algumas religiões, nossa passagem por aqui (primavera-verão-outono-inverno) tem como finalidade o aprendizado. Se não me engano, uma delas diz que a passagem não é uma só, que voltaremos até aprender. É, há que ter paciência! Acho que aprendi: ando sem paciência pra gente sem paciência. Ops..."


(via BloGessinger)


Diálogos sem nexo na Biblioteca - Parte V

Curtinho, mas não menos sem nexo!

- Moça, o que é afrodescendente?

- Está perguntando se você tem descendência negra.
- Na minha família, né?

A semana promete!





domingo, 12 de maio de 2013

Olhar....

Se você não consegue perceber o quanto uma pessoa está feliz sem que ela precise mostrar os dentes... E nem perceba o quanto ela está infeliz enquanto os mostra... Talvez você seja aquele tipo de pessoa que não sabe olhar nos olhos e tampouco identificar o que eles dizem... Que pena!



quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sentir...

Passei a tarde toda pensando no porquê de ser tão difícil deixar algumas pessoas partirem... E então me deparei com essa frase. Quantas vezes eu tento entender meus sentimentos, justificar o porquê de dar tanta importância pra algumas pessoas, pessoas que talvez eu não só deveria ter deixado partir há muito tempo como talvez elas até tenham partido e eu nunca me dei conta disso.
Por que esse apego? Esse medo de perder? Perder o que? Não possuímos as pessoas para prendê-las e tão pouco para perdê-las... 
E no fim, cá estou eu tentando entender o que eu deveria simplesmente sentir...

Finito - Luiz Fernando Dias Prado

Não há mais sobre o que escrever 
O mundo tornou-se doido demais para que o lirismo desse conta de suas loucuras
Se nem mesmo o instrumento dos loucos, isolados, distanciados, gauches
É capaz de explicar o que é que há com o mundo 
Quem sou eu para tentar?

Fale-me de você. Vamos tomar um café e conversar sobre seu dia

Ao que parece só me resta cantar as coisas simples da vida
Coisas óbvias e com sentido, suficientemente lógicas para não acabar comigo
Pareço um pouco consternado, José?
É porque a festa acabou mesmo

Foi-se o tempo da orgia intelectual

Hoje todos os nossos poetas estão loucos
Ou então (foram) mortos 
Soterrados pela angústia que abateu-se sobre a alma de cada um deles
Por não conseguirem mais fingir que entendiam o mundo

Acabou. Todas as penas, canetas ou teclados devem ser guardados

Vamos tratar de arrumar preciosos cargos públicos que não nos enlouquecerão 
Chegando em nossas casas assistiremos a boa e velha novela piegas
Reclamaremos que a comida está sem sal
E sem querer faremos um poema sobre a falta de sal do mundo

Por que, por mais que tente, um poeta é sempre um poeta 

Não podemos simplesmente pendurarmos nossos casacos e dormirmos tranqüilamente
Seria bem mais fácil se pudesse ser assim, mas...
O mundo caducou e nada mais resta além de lirilizá-lo
Mesmo que fiquemos loucos (não sempre o fomos?)

Novamente caio em contradição em virtude da natureza poética 

Isso prova que não é o poeta que faz a poesia
Mas a poesia é que leva o poeta
E poeta é aquele que se deixa levar por ela sem ter medo
De caducar junto com o mundo 

Não importa. Um último gesto involuntário de um poeta sendo sufocado

Vitimado por contas, faróis, recibos e tratamento capilar com resultados em duas semanas 
Hoje não é apenas um dia triste para a escrivinhatura universal
Hoje é apenas o dia onde se percebeu que no final da linha tinha um ponto final
Tinha um ponto final no final da linha
No final da linha tinha um ponto final 

Quem sabe algum desavisado comece, daqui há uns tempos, a poetizar por aí

Achando que o mundo é torto e que ele é mais torto ainda 
Certamente se ele não pirar (ou virar funcionário do Banco do Brasil)
Vou estar na primeira fila aplaudindo-o de pé
Pensando onde diabos eu deixei minha pena, caneta ou teclado.

(Tenho certeza que Drummond ficaria orgulhoso desse escrito que o Luiz fez quando era mais jovem... Eu sou simplesmente apaixonada pela escrita dele! Cada vez que leio algo que ele escreveu eu me sinto orgulhosa por saber que ele fez parte da minha vida, mesmo a distância, e ver o grande cara que ele se tornou.)


No coletivo era o blog do Luiz, pra quem curtiu seu estilo de escrita, lá tem mais textos, só é uma pena que ele tenha parado de atualizar há mais de dois anos!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Há dez anos atrás...


Quem escreve as bulas? - Mario Prata

Quando me perguntam a profissão e eu digo que sou escritor, logo vem outra em cima: de quê? De tudo, minha senhora. De tudo, menos de bula. Romance, cinema, teatro, televisão, poesia, ensaios, tudo-tudo, menos bula!
Não que eu não aprecie as bulas. Pelo contrário. Adoro lê-las. E com atenção. E, sempre, depois de ler uma, já começo a sentir todas as reações adversas.
Admiro, invejo esse colega que escreve bulas. Fico imaginando a cara dele, como deve ser a sua casa. Que papo tal escrivão deve levar com a mulher e com os vizinhos?
Tal remédio é contra-indicado a pacientes sensíveis às benzodiazepinas e em pacientes portadores de miastenia gravis (sic). Dá vontade de telefonar para o autor e perguntar como é que eu vou saber se sou sensível e portador.
Quanto ele ganha por bula? Será que ele leva os obrigatórios 10 por cento de direitos autorais? Merecem, são gênios.
Jamais, numa peça de teatro, num roteiro de um filme ou mesmo numa simples crônica, conseguiria a concisão seguinte: é apresentado sob forma de uma solução isotônica (que lindo!) de cloreto de sódio, que não altera a fisiologia das células da mucosa nasal, em associação com cloreto de benzalcônio. Sabe o que é? O velho e inocente, Rinosoro.
Vejam o texto seguinte e sintam na narrativa como o autor é sádico: você poderá ter sonolência, fadiga transitória, sensação de inquietação, aumento de apetite, confusão acompanhada de desorientação e alucinações, estado de ansiedade, agitação, distúrbios do sono, mania, hipomania (?), agressividade, déficit de memória, bocejos, despersonalização, insônia, pesadelos, agravamento da depressão e concentração deficiente. Vertigens, delírios, tremores, distúrbios da fala, convulsões e ataxia. Pronto, tenho que ir ao dicionário ver o que é ataxia, já sentindo tudo descrito acima.
Quem mandou ler?
E quem tem úlcera pélvica não pode tomar remédio nenhum. Está condenado à morte. Toda bula odeia essa tal de úlcera pélvica. As demais úlceras entram como coadjuvantes nos textos dos autores buláticos (tem a palavra no Aurélio).
E as gestantes (é como os buláticos chamam a grávida)? Elas não podem tomar nenhum remédio. Os nobres coleguinhas odeiam a gravidez.
E, se você tem intolerância conhecida aos derivados pirazolônicos, te cuida, irmão. Deve dar em gente nascida em Pirassununga e região.
Para todo remédio uma bula diferente, um estilo próprio, um jeito de colocar a vírgula diferente.
Tudo isso para dizer que outro dia, na cama, com a parceira amada, pego uma camisinha na mesinha e abro. Sabe o que estava escrito lá dentro? Parabéns! Você adquiriu o mais avançado e seguro preservativo do mercado brasileiro. Era uma bula. Escrita por algum tarado sacana, é claro, dentro da camisinha. Claro que me entusiasmei e segui a leitura deixando a amada de lado. Broxei, é claro. Mas fiquei sabendo que o agente espermicida nonoxinol 9 é contra as DSTs.
Depois dessa informação, aí sim, voltei para a alcova. Mas e a amada, onde estava?
E lembre-se sempre: todo medicamento deve ser mantido fora do alcance das crianças. E não tome remédio sem o conhecimento do seu médico. Pode ser perigoso para a sua saúde.
E pra cabeça!

PRATA, Mario. Quem escreve as bulas? In: 100 crônicas. São Paulo :  Cartaz Editorial, 1997.





Diálogos sem nexo na Biblioteca - Parte IV

Época de inscrições do Vestibulinho nas ETECS... Muita correria e coisa e tal, muito cansaço, mas por outro lado, as doidices são maiores, o que torna tudo mais interessante! 

Ontem foi um desses dias... Uma moça após efetuar sua inscrição veio até mim para que eu pudesse imprimir a segunda via do seu boleto bancário.


- Por favor, seu CPF e a senha que você fez para a inscrição.

Espanto!
- Senha?
- Sim, a senha que você acaba de criar ao fazer a inscrição.
De repente, ela entende!
- Moça, eu não lembro!
- Sério?
- Não me lembro!
- Você faz alguma ideia do que você pode ter colocado?
- Deixa pensar...
Algum tempo e vem a luz!
- Tenta deusetudoparamim!
- Ok! (QUE TAMANHO DE SENHA É ESSA? penso eu)
- Deu?
- Não deu certo! Alguma outra sugestão?
- Tenta meudeusetudoparamim!
- Certo... (JÁ TAVA ACHANDO ENORME E ELA AINDA ACRESCENTOU MAIS COISA????)
- Nada! Mas espera um pouquinho, aqui tem como recuperar a senha! Vamos tentar! Ai eles enviam a senha para o seu e-mail.
- Moça, o e-mail que eu coloquei na inscrição não existe!
- Não? (SÁSSENHOOOOOOOORA!)
- Não!
- Nossa, moça... Era o único jeito de recuperar a senha! Eles enviam por e-mail!
- Ah, eu tenho um e-mail na verdade, mas eu esqueci a senha dele!
- Ah é? (NÃO SEI POR QUAL MOTIVO EU NÃO ESTOU MAIS ESPANTADA!)
- Sim!
- Então vamos tentar recuperar a senha do seu e-mail... 
Entro no hotmail e a saga continua.
- Aqui fala que você cadastrou um e-mail com o começo "wa....@hotmail.com" para o caso de precisar recuperar a senha!
- Ah, eu não sei que e-mail é esse não!
- Não? Mas foi você quem colocou aqui!
- Moça, nem foi esse e-mail que eu coloquei na inscrição.
RESPIRA, RESPIRA, RESPIRA...
- Certo... Então vamos tentar criar o e-mail que você colocou na inscrição, certo?
- Ok!

Entro eu na página do e-mail de novo e preencho todo o cadastro para fazer o tal e-mail pra moça... Até que percebo que o e-mail que ela colocou era o nome dela underline @hotmail.com! Pensei comigo: já devem ter criado esse e-mail assim que inauguraram o hotmail! Esquece!


- Moça, esquece, não dá pra criar o e-mail mesmo. Tem mais alguma ideia do que pode ser a sua senha? 


E então veio a sequência de senhas que não acabam mais: deusefiel, meudeusefiel, deusetudopramim, meudeusetudopramim e assim por diante!

- Moça, sinto muito, mas esgotei todas as possibilidades que eu tinha de poder ajudá-la! (QUASE MEIA HORA DEPOIS!)
- Que pena, eu queria tanto fazer a prova!

Dai a levei para o responsável para ver o que poderia ser feito... Voltei para Biblioteca e fiquei pensando... Eu tinha uma ótima sugestão de senha para ela: MEUDEUSEFIELMASMEDEIXOUESQUECERASENHA! 


Sério, da próxima vez que eu pedir a senha e alguém me disser que não lembra, vou dar meu melhor sorriso e dizer:


- Que pena, volte quando você lembrar, por favor?!


terça-feira, 7 de maio de 2013

Diálogos sem nexo na Biblioteca - Parte III

Eu e minha amiga Marta Emygdio do Dia Tenso (ótimo site, vale a pena conferir e seguir!) fomos protagonistas do diálogo sem nexo dessa noite!rs

Estávamos falando sobre A Vida, o Universo e Tudo Mais e não era o livro do Douglas Adams! (Para quem não conhece, fica a dica de leitura a Coleção O Guia do Mochileiro das Galáxias (APROVEITA QUE TÁ EM PROMOÇÃO, GENTE!rs)

Voltando ao diálogo, bem, não vou me estender mais, vou transcrevê-lo (mais ou menos, né? A idade já tem afetado a memória significativamente!rs)

Nós falando sobre terapia e em como não depende só do profissional, ele orienta, mas somos nós quem temos que agir, enfim.

(Juliana) - Eu acredito que para resolver esse problema (um problema qualquer que não vem ao caso!rs) eu tenha que resolver meu problema afetivo primeiro.
(Marta) - Pode ser...
(Juliana) - Mas daí me falam "Então resolva!", como se fosse fácil... Não é fácil, poxa! Vou resolver meu problema afetivo com o primeiro cara que encontrar na rua então!

Nesse momento entra um homem na Biblioteca... As duas ficam mudas... Eis que olho pra Marta e...

(Juliana) - EU DISSE NA RUA!

O moço deve estar pensando até agora no motivo que tanto nos fez rir e em como a gente é feliz!rs

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Diálogos sem nexo na Biblioteca - Parte II

Em uma noite qualquer de 2012... Em um universo não muito distante... Ops! Um dia comum, com usuários incomuns!rs

Segue mais ou menos o diálogo ou a essência dele:


- Oi! Vim devolver meu livro!

- Olá!
- Eu estou devolvendo ele com dois dias de antecedência, tem problema?
- Problema algum! O problema é quando devolve depois do prazo.
- Por que?
- Porque para cada dia de atraso, você paga R$ 0,25 de multa.
- Entendi... (E faz aquela cara genial de quem está pensando e pronto para me dar o bote com alguma ideia brilhante!)
- Se para cada dia de atraso são R$ 0,25 de multa, então quer dizer que se eu devolvi o livro com dois dias de antecedência logo eu tenho direito a receber R$ 0,50?

E assim fiquei eu, estupefata! Se eu ri? Eu ri muito! Adoro gente com senso de humor, mas eu não posso pagar por ele, querido! 

Eu tô tipo assim... Sei lá!

A vontade de escrever é arrasadora... Bem que a inspiração poderia ser também.
E aquela imensa vontade de gritar para o mundo: Ei, eu continuo tentando! E estou muito bem, obrigada!
Mas tentando o que? Por que? Para quem?
Por que temos essa necessidade de demonstrar para quem quer que seja o quanto nos sentimos bem? Será que a felicidade só passa a ser genuína se for compartilhada ou esfregada na cara de alguém que talvez esteja esperando com que não estejamos nada bem?
Talvez a verdade seja totalmente oposta a isso... Quem está feliz de verdade tem tempo para ficar se preocupando em mostrar para alguém? Tem vontade de realmente dizer que está feliz em meio a tantas pessoas que nos fazem sentir culpadas por estarmos assim?
Sei lá, nem sei o porquê de estar falando sobre isso... Pra ser bem honesta, nem sei se estou feliz ou triste, mas seja lá o que estou sentindo, é algo morno! Nem mais e nem menos... Será o tão desejado equilíbrio ou estou apenas anestesiada?
E de repente me percebo não tentando provar nada pra ninguém, só me vejo buscando explicação pra tentar entender como estou e por que estou assim. E o motivo? Pouco importa.




sexta-feira, 3 de maio de 2013


"Publicar um texto é um jeito educado de dizer 'me empresta seu peito porque a dor não tá cabendo só no meu'”. Tati Bernardi




quinta-feira, 2 de maio de 2013

Diálogos sem nexo na Biblioteca

- Ué, já voltou?
- Pois é!
- Tava de férias?
- Sim! Queria ficar mais um pouco!
- Mas é bom trabalhar né?
- Eu queria estar em casa, confesso.
- É né? Ainda mais esse horário, ver uma novelinha que vocês gostam.
- Faz tanto tempo que não assisto novela.
- Comer um danone...

(Daqui pra frente não prestei mais atenção em nada! Comer um danone? Oi?)

quarta-feira, 1 de maio de 2013

A surpresa - Clarice Lispector

"Olhar-se ao espelho e dizer-se deslumbrada: Como sou misteriosa. Sou tão delicada e forte. E a curva dos lábios manteve a inocência.
Não há homem ou mulher que por acaso não se tenha olhado ao espelho e se surpreendido consigo próprio. Por uma fração de segundo a gente se vê como a um objeto a ser olhado. A isto se chamaria talvez de narcisismo, mas eu chamaria de: alegria de ser. Alegria de encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não me imaginei, eu existo." 


LISPECTOR, Clarice. A surpresa. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro : Rocco, 1999.

Aquelas palavras que eu nunca te disse - Clarissa Corrêa

"Olha, estou muito triste com você. Triste, chateada, decepcionada. Quando você precisou de mim estive ao seu lado, incansavelmente. Te dei ouvido, colo, ombro. Foi gratuito, sim, veio do coração e foi sincero. E, não, eu não deveria esperar nada em troca, afinal, se a gente faz uma coisa porque quer não tem que esperar nadica de nada dos outros. 

Confesso que nunca esperei um obrigada. Tudo que faço é porque quero, não forço nada. Mas detesto me sentir usada, abusada e descartada. Não esperava que você beijasse meus pés, apenas que tivesse conhecimento de uma palavrinha chamada gratidão. Ela é tão bonita, tão importante nos relacionamentos. A gratidão é aquele sentimento que nos faz agradecer por ter pessoas leais em nossas vidas.


Todo o ser humano nasce com as tais (terríveis) expectativas. Elas nos tiram o sono, causam olheiras, fazem calo no coração. E eu infelizmente sou uma pessoa que tenho expectativas demais. Talvez o erro seja realmente meu, entende? Talvez eu tenha esperado que você tivesse consideração. Talvez eu não esperasse que você me virasse as costas depois de tudo. Agora você franze a testa e se pergunta: o que ela queria? Nada. Eu não queria agradecimentos públicos, presentes caros, anúncios no jornal. Só queria sentir uma sinceridade estampada no seu peito. Mas eu sinto uma competição. Não entendo muito disso, afinal, amigos não competem. Ou competem e não estou sabendo? 


É claro que ninguém nunca vai ser como a gente espera. É claro que precisamos fechar um olho, fingir que não ouvimos determinadas coisas, deixar passar batido outras tantas. Se formos levar tudo ao pé da letra fica muito difícil manter uma amizade. Mas não dá para pisar em ovos o tempo inteiro, não dá pra encenar um papel a todo instante. Precisamos ser nós mesmos. Preciso manter minha naturalidade, não posso viver dando desculpas para sua falta de jeito ou para o meu excesso de sentimentalismo. Sim, eu sei que fico filosofando sobre as coisas e procuro pelo em ovo. Mas ultimamente ando mais simples, mais consciente. O que tiver que ser vai permanecer. É claro que todos os relacionamentos exigem esforço, precisam de um empurrão para funcionar. Mas não posso ser a única a fazer esforço. Dois têm mais força que um. Lembra disso."


(via Clarissa Corrêa)
"Você não entende como não começa um relacionamento, como não se apaixona novamente, como não muda de vida.
Reclama da ausência de opções. É bonita, inteligente, divertida.
Minha hipótese é que não abandonou o passado.
Mantém flertes com o ex indiferente, ou continua saindo com sujeito que jamais assumirá o romance.
Raciocina que, enquanto não vem o escolhido, o príncipe, pode se entreter com velhas paixões.
Mas todos pressentem quando uma mulher está enrolada, todos intuem o caso mal resolvido, e não se aproximam.
Não virá ninguém para espantar os corvos e dissolver essa atmosfera pesada de Prometeu.
É trabalho em vão soterrar o precipício. Mulher desinteressada é impossível.
Ninguém ousará quebrar o monopólio de sua dor.
Você cheira a encrenca, cheira fidelidade a um terceiro. Seus ouvidos estão lentos, sua boca paira em distante lugar, seus olhos se distraem seguidamente.
Não tem brilho na pele, porém tensão nos ombros.
Sua respiração é um poço de suspiros.
Vive ansiosa por notícias, por reatos, mensagens. Não presta atenção, não se entrega para as casualidades.
Quem enxerga fantasmas não vê os vivos.
Não dá para começar um novo amor sem abandonar os anteriores. Errada a regra que a gente somente esquece um amor antigo por um novo.
Está com o corpo fechado, costurado, mentindo que já não sofre mais com as cicatrizes.
Espera herança, não sai para trabalhar ternuras.
Mendiga retornos, não cria memória.
Sua nudez não responde ao pedido da curva. Nem balança com a música favorita.
Está tomada do carma, do veneno, do ressentimento.
Pensa que está bem, mas está em luto. Uma mulher em luto não permite arrebatamentos, afasta-se na primeira gentileza que receber, recusa a prosperidade das pálpebras piscando nos bares e restaurantes.
Você nunca vai encontrar seu namoro, seu casamento, sua paz, se não terminar de se arrepender.
É preciso guardar o máximo de ar, ir ao fundo, descer na tristeza e nadar para longe dela.
Não amará outro alguém sem solucionar pendências, sem recusar o homem que não a merece, o homem que não vai embora e tampouco fica.
Não amará outro alguém sem abandonar algumas horas de alívio em motéis.
Não amará outro alguém se não bloquear as recaídas, se insistir em ressuscitar as promessas.
Uma mulher nunca será inteira se mantém romances quebrados.
Nunca estará presente.
Nunca estará aqui.
Entenda, minha amiga, só ama quem está disposta a ser amada." CARPINEJAR